domingo, 20 de julho de 2008

Amarelo Canário

O canário engaiolado,
longe das Ilhas Canárias,
olha o trânsito da cidade
e canta para ninguém.

Não, não mais lamenta estar preso,
já testemunhou vários suicídios.
Lamenta, talvez,
sua pequenez de canário.

O rapaz lhe trás água e comida,
sorri e faz carinho.
O pássaro come e bebe,
um gosto amargo de jiló.

Percebe e inquieta-se, faz alarido,
debate-se no pequeno espaço.
Depois se acalma e se cala,
nada mais por fazer.

O canário olha a janela e sabe,
aquele é um pássaro que não voa.

Inicia um canto de despedida
enquanto estraçalha-se
nas grades da gaiola.